Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que eu sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu"?
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Para não citar Bernardo Soares, ou para não cair na tentação de publicar a "Tabacaria" e de me voltar a apaixonar por ela. Tantas vezes a desprezei e mais foram aquelas em que nela não me reconheci. Comentei com a Matilde que este poema era mesmo bonito, e ela concordou comigo, ou eu com ela. "Este homem era um génio", e as aulas de Português são incríveis.
P.S.: Parabéns à Maria Ana, à Sara, ao Flávio e ao Chico, que hoje receberam uma Menção de Mérito e estavam muito catitas!
"Um aluno de mérito é genuíno, é transparente, é simples..É uma pessoa incrível"(a última parte inventei)
ResponderEliminaroh luisita, podes não ter recebido o papel, mas para mim, quando cantas a terrified, todo o mérito do mundo cai sobre ti.
(e em mim deixa uma profunda gratidão por te poder ouvir)
é verdade... o melhor do Nando Person
ResponderEliminarSoube-me bem "ouvir" tudo isto...
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