20101023

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,



Atento ao que eu sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.



Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu"?
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

Para não citar Bernardo Soares, ou para não cair na tentação de publicar a "Tabacaria" e de me voltar a apaixonar por ela. Tantas vezes a desprezei e mais foram aquelas em que nela não me reconheci. Comentei com a Matilde que este poema era mesmo bonito, e ela concordou comigo, ou eu com ela. "Este homem era um génio", e as aulas de Português são incríveis.


P.S.: Parabéns à Maria Ana, à Sara, ao Flávio e ao Chico, que hoje receberam uma Menção de Mérito e estavam muito catitas!

3 comentários:

  1. "Um aluno de mérito é genuíno, é transparente, é simples..É uma pessoa incrível"(a última parte inventei)

    oh luisita, podes não ter recebido o papel, mas para mim, quando cantas a terrified, todo o mérito do mundo cai sobre ti.
    (e em mim deixa uma profunda gratidão por te poder ouvir)

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