20120217

Por mais voltas que possamos dar, por mais vezes que tenhamos prometido ver o "tal" filme e ler o "tal" livro, nunca o fazemos. Adiamo-nos constantemente. Adiamo-nos em sentimentos e em tudo o que nos provoque o choro. O que nos inunda, jamais será a crença de que iremos, definitivamente ler o "tal" livro, mas sim a saudade que insistimos em esconder, num fim sem fim algum. Tudo isto para te dizer que tenho saudades do Caminho. Hei-do-to repetir mil e uma vezes elevadas a outras tais mil que a mim já me confundem por não perceber de matemática. Por vezes, a vida dá voltas que nunca hei-de compreender ou saber explicar. Já não posso tomar nada por garantido. Nem tu podes, mas eu sei que já te apercebeste disso. Mas tenho saudades de não saber o que é a rotina e de não repetir tantas vezes que "tenho saudades". Por mais vezes que ouça Sigur Rós e companhia, por mais que tente imaginar-vos tremendamente frágeis, continuo vazia, na ânsia de nunca entender o porque de a minha memória fotográfica me falhar nesta altura. Mas nem te pergunto... Tu sabes o porquê. Porque a dor e o reflexo do ser humano, do ser realmente humano, é lá deixado, entre o Cebrero e Santiago. Tanto está no pó que se alevanta na sua constante de alevantamento, tanto nos abraços que nos permitem o sono. Tenho saudades porque só aí caminho. Porque só aí me perco em mim sem ter a noção disso, sem mesmo saber que forma física tal acto se reveste. Porque é só aí que faz sentido queixar-me por tudo e por nada e, no final, aperceber-me de que é mais uma futilidade minha e que há tanto, mas tanto, pior. Porque só aí me abstenho do mundo. Só aí sei o que é ser... Poder perder-me na eternidade do dia que nunca acaba, ou que tão rapidamente dá lugar a outro. É graças ao Caminho que conheço músculos que nunca antes julguei existirem, e isso, tu sabes... Isso é o menos. O que trazemos é grande. É demasiado, por vezes. Deixa-nos na incerteza. E é essa incerteza que nos faz voltar, porque há sempre alguém com quem ainda não caminhamos, e há sempre uma estapa a redescobrir. E isto... Isto são palavras. É tão pouco. A essência está em partilhar joelheiras. Isto parece pouco, mas é muito. Isto que é enorme. É isto que nos transcende...